É sabido que, classicamente, a depressão primária (não causada por substâncias ou por doenças orgânicas) está inserida em duas grandes síndromes: o Transtorno Depressivo Unipolar (a depressão simples) e o Transtorno Afetivo Bipolar. Mas qual a diferenteça entre a uni e a bipolaridade? O principal marcador de diferença entre as duas síndromes é a ocorrência de episódios maníacos ou hipomaníacos.
Episódios maníacos são caracterizados por períodos sustentados (de, no mínimo, 7 dias) de humor eufórico ou irritado, associados a outras manifestações, como ideias de grandeza, pensamento acelerado, insônia e etc. Um único episódio maníaco basta para caracterizar uma pessoa como portadora de Transtorno Afetivo Bipolar.
Episódios hipomaníacos, por outro lado, são como que episódios maníacos de menor intensidade.
Quem oscila, ao longo da vida, entre episódios maníacos ou hipomaníacos e episódios depressivos é portador de Transtorno Afetivo Bipolar. Alternativamente, quem só cursa com episódios depressivos é portador de Transtorno Depressivo Unipolar.
A importância da diferença entre a uni e a bipolaridade
É claro que esta divisão serve a um propósito prático. Saber se a uni ou bipolaridade impacta no prognóstico (a perspectiva de evolução da condição ao longo do tempo) e no tratamento da pessoa.
Mudam-se desde a psicoterapia empregada, até as medicações utilizadas. Muda-se também o prognóstico, com o diagnóstico de bipolaridade, via de regra, impactando maiormente a funcionalidade das pessoas do que o de unipolaridade.
Quais os preditores, então?
Como eu disse, a resposta desta pergunta é um desafio mal respondido, então, não se frustre com o que está por ler.
São poucos os preditores encontrados na literatura médica. Nenhum deles, contudo, é específico o suficiente para motivar qualquer intervenção especial. Isto quer dizer que, até que a pessoa venha a desenvolver um episódio maníaco ou hipomaníaco, ela será, muito provavelmente, reconhecida como portadora de Transtorno Depressivo Unipolar.
Porém, encontrar (1) história de traumas na infância, (2) uso e abuso de substâncias psicoativas, (3) história familiar de Transtorno Afetivo Bipolar e (4) manifestação precoce do primeiro episódio depressivo são indicativos de evolução com bipolaridade.
Mas preste bem atenção (e que isso fique bem claro): são meros indicativos! Ou seja, pode ser que você apresente um ou até mesmo todos desses indicativos, mas isso não significa que você vai evoluir com bipolaridade.
Um estudo brasileiro publicado este ano na Psychiatry Research mostrou exatamente isto, após acompanhar mais de 450 pessoas diagnosticadas com Transtorno Depressivo Unipolar por cerca de 3 anos.
Ao longo desses 3 anos, cerca de 12% dos originalmente diagnosticados com unipolaridade se mostraram, com efeito, bipolares. Além dos preditores mencionados acima (à exceção da história de traumas na infância, que não mostrou ser um preditor neste estudo), o estudo ainda encontrou que ser do sexo feminino e ter estudado menos de 9 anos também são possíveis preditores.
Procure um profissional de saúde
Se você está deprimido e, além disso, possui um dos preditores mencionados acima, não tome decisões sem o auxílio adequado!
Procure um profissional de saúde, seja ele médico clínico, psiquiatra ou psicólogo. Vá acompanhado de um familiar que te conheça, porque (e importante isso) nem sempre quem sofre de mania a reconhece. Normalmente, as outras pessoas são melhores para identificar um episódio maníaco do que aquele que sofre com o episódio.
Finalmente, não se automedique ou interrompa seu tratamento por conta própria! Medicações são ferramentas muito interessantes para o tratamento de condições psiquiátricas, mas devem ser usadas com supervisão médica e de modo correto. Do contrário, podem causar grandes malefícios.
Na Silepse, temos médicos psiquiatras extremamente qualificados e que podem te ajudar a identificar e tratar estes e outros transtornos, com excelência e dedicação total à sua saúde mental.